Eça de Queirós não nasceu nem morreu em Lisboa. Como diria A. Campos Matos, “Eça passou por Lisboa.” Parece paradoxal tal afirmação porque diríamos que seria inevitável não pensarmos n’Os Maias como um roteiro sentimental do escritor pela capital. As “suas” memórias de uma capital burguesa e aristocrática metida entre a Arcada e São Bento, no declinar do século XIX, entre a decadência política e moral, com personagens e frases intemporais.
Eça de Queirós faleceu em Paris a 16 de Agosto de 1900. E em cento e vinte anos a leitura, o estudo e a crítica nunca esmoreceram perante as revelações de um Eça desassossegado com a sua escrita. O escritor revelou-se muito mais que um romancista e curiosamente os romances publicados formam uma ínfima parte do que escreveu e publicou em vida.
Inicia-se na escrita através da publicação de artigos na Gazeta de Portugal (Lisboa), estando ainda em Coimbra. Estreia-se como jornalista no Distrito de Évora e como cronista no Diário de Notícias com as crónicas da sua viagem ao Oriente. Na prosa e em parceria com Ramalho Ortigão redige um folhetim policial. O seu primeiro romance terá três versões que ajudou a revelar um escritor perfeccionista. E sem esquecer a sua faceta de contista.
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Visita Guiada Eça de Queirós
Na evocação dos 120 anos da morte de Eça de Queirós propomos uma nova visita guiada. Em jeito de provocação biográfica percorremos os lugares e as memórias do escritor e revelaremos os contornos da vida íntima, política, social, artística e até na advocacia. Eça de Queirós nunca quis redigir a sua biografia nem incentivou outros a fazê-lo porque não tinha história, como a República do Vale de Andorra. Ao longo destes cento e vinte anos tem sido tentador procurar nas linhas dos seus romances o verdadeiro Eça, o escritor confessional.
Este percurso biográfico decorre em dois tempos – a chegada a Lisboa em 1866 e partida para Cuba como cônsul e as vindas intermitentes à capital do reino até 1898. Nesta deambulação queirosiana pela capital serão recordados os lugares emblemáticos e as personagens incontornáveis da sua obra romanesca, a sua vida boémia e de intervenção, o círculo de amigos notáveis que caracterizam as mudanças históricas do país na viragem do século XIX. E não deixaremos de comentar a chalaça política, a crítica cultural e social e até as suas impressões da capital.
Ainda em jeito de evocação as nossas visitas guiadas do mês de Agosto apresentam-nos o Raposão e a Titi, as personagens marcantes d’A Relíquia; Carlos e Maria Eduarda ou João da Ega e Dâmaso quase nem precisam de apresentações, tão realistas se tornaram com Os Maias e por Sintra as impressões do maestro Cruges levam-nos pela natureza “caturra” entre amores proibidos e delírios românticos de poetas.