O CAMINHO DAS ESTÁTUAS

Desde tempos antigos que o Homem constrói estátuas como monumentos que evocam um tempo, um acontecimento, um ser. E é isso mesmo o que significam – um objecto para recordar a posteriori, a memória de algo que se materializa através de uma escultura figurativa ou abstracta. Podemos recuar até à Antiguidade Clássica em que a estátua serve o culto da imagem de quem é venerado e quer ser perpetuado ou com intuito religioso e como legado in memoriam.

Pela cidade de Lisboa a estatuária monumental e histórica acompanha o eixo que liga o Terreiro do Paço à Rotunda. Mas nem os conjuntos escultóricos que foram pensados para estes dois pontos da capital conseguiram apagar a “memória” destes sítios nem o porquê da sua nomenclatura. Os séculos XIX e XX foram pródigos nestas construções de uma memória em lioz e bronze e perenes de significados. E isto leva-nos a reflectir sobre intenções (goradas?) de querer mudar ou fazer História com a edificação de uma estátua equestre real ou de um colosso homenageando o Marquês de Pombal. São muitas as estórias por detrás de uma estátua ou de um busto pensados para o espaço público mas que ficaram esquecidos no tempo. Porquê Rossio quando oficialmente é Praça D. Pedro IV? Ainda se inauguram estátuas? E a intenção será meramente de evocação ou serve ideologias? Ou servirão apenas de poleiro a pombos e gaivotas?

O Caminho das Estátuas

Este “caminho das estátuas” (a expressão é de José Saramago) leva-nos a percorrer, em jeito de peregrinação histórica e estética, vários monumentos e a fazer as leituras possíveis para a sua edificação e o local escolhido. Vamos recuperar o hábito lisboeta de “fazer a Avenida” até à grande praça perante “o rio da minha aldeia” nas palavras de Alberto Caeiro. E não poderemos deixar de deter o nosso olhar no edificado e descobrir detalhes que nos causam admiração pelo excesso ou pela linearidade das formas.

Paula Marques O Caminho das Estátuas
Paula Marques O Caminho das Estátuas

IN MEMORIAM
A ideia de criar um roteiro guiado sobre estátuas nasceu em 2003. O seu criador foi Joseph C. Abdo, professor de inglês no Curso Superior de Turismo do ex-ISLA, escritor e actor. O Joe Abdo foi responsável pelos primeiros walking tours/passeios a pé organizados em Lisboa a partir de 1995. Foram tempos em que andar a pé com o intuito de aliar o prazer da caminhada a uma aprendizagem era considerado uma utopia. A empresa então criada por Joe Abdo seria a génese dos Passeios Literários – Visitas Guiadas Pela Mão de Autores Portugueses ®. Em jeito de homenagem a Joe Abdo (✞2018) recuperamos dos arquivos este roteiro e convidamos todos a caminhar com as estátuas, a olhar e a dialogar com a escultura, polémica ou consensual e por vezes invisível ao passeante.

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